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Lifestyle

Trabalho remoto ou presencial? Não há apenas uma resposta

10/17/2023

O debate não está mais relacionado à pandemia, mas ao futuro. Para empresas e trabalhadores, pode ser uma questão de equilíbrio, conforme permitido pela natureza de cada negócio específico. 

A pandemia de COVID-19 transformou o mercado de trabalho em todo o mundo, à medida que um número sem precedente de organizações fechou locais de trabalho, e trabalhar remotamente tornou-se "o novo normal" para quase metade(48%) dos trabalhadores. Quase três anos depois, muitas empresas admitiram que o trabalho flexível é agora um aspecto inseparável do moderno mundo do trabalho. Entretanto, um número crescente de organizações e líderes empresariais reconhecidos estão pressionando para um retorno ao trabalho presencial.

À medida que a pandemia arrefeceu, o debate sobre o trabalho remoto se polarizou profundamente, e 2023 será provavelmente um ano crucial no que a mídia apelidou de "Guerra de Retorno ao Escritório". Entre as empresas mais famosas do mundo, muitas agora exigem que os funcionários compareçam ao escritório mais frequentemente, em uma abordagem "híbrida" do trabalho remoto. Apple, Amazon, Disney, Google, HSBC, J.P. Morgan, Meta e Microsoft estão tomando esta via, enquanto outras empresas como Netflix, SpaceX, Tesla e Twitter se opuseram rigidamente ao trabalho remoto. Elon Musk, o CEO das três últimas, virou notícia recentemente ao determinar um mínimo de 40 horas semanais de trabalho no escritório para seus funcionários —apesar da declaração anterior de Musk, o Twitter instruiu funcionários a trabalharem remotamente quando a empresa fechou alguns de seus escritórios como parte de medidas de redução de custos.

Toda empresa deve reconhecer que o debate sobre trabalho remoto versus trabalho presencial não está mais relacionado à pandemia, mas ao futuro do trabalho e questões que abrangem gestão, formação de equipes, ambiente de trabalho, e até mesmo um choque de gerações. Como a última edição da American Opportunity Survey da Mckinsey aponta, flexibilidade é agora uma palavra altamente valorizada pela maioria dos trabalhadores. Mas quais poderiam ser as implicações a longo prazo? Para responder a esta pergunta, devemos primeiro considerar os incontestáveis prós e contras do trabalho remoto. Aqui estão alguns deles: 

 

Prós do trabalho remoto

Mais acesso a talentos

As empresas que adotaram o trabalho remoto logo descobriram que um dos benefícios mais significativos que ele oferece é o acesso a talentos de praticamente qualquer lugar. Para os empresários e especialistas em recursos humanos, o trabalho remoto significa um pool mais amplo de candidatos e acesso a talentos remotos: trabalhadores com habilidades e conhecimentos que podem não ser encontrados comumente na área de operação de uma empresa também podem ser considerados para uma posição. 

Custos operacionais mais baixos

O acesso a talentos remotos também pode ajudar as empresas a manter os custos estáveis ou mesmo a reduzi-los. Contratar um profissional baseado em outra cidade, estado ou país pode exigir menos fundos do que contratar alguém de um lugar com um custo de vida mais alto. Além disso, como muitas empresas perceberam, o trabalho remoto lhes permitiu reduzir ou eliminar os custos de manutenção do espaço físico do escritório.

 

Crescimento acessível dos negócios

Empresas que operam apenas com trabalho presencial devem eventualmente lidar com limitações de espaço quando o crescimento do negócio exige um novo prédio ou a remodelação do escritório atual para instalar novos funcionários. Já o trabalho remoto pode favorecer e acelerar o crescimento dos negócios, eliminando a necessidade de mais espaço no escritório. 

 

Contras do trabalho remoto

 

Exigências legais diferentes

A conveniência de contratar funcionários de praticamente qualquer lugar do mundo vem com um possível inconveniente: ter que cumprir vários —e potencialmente concorrentes— requisitos legais. Estes podem incluir diferentes níveis mínimos de salário, requisitos de folha de pagamento, licenças e leis tributárias, apenas para mencionar alguns. Portanto, antes de contratar um funcionário remoto, uma empresa precisa buscar aconselhamento jurídico sobre uma série de questões diferentes.

 

Ambientes de trabalho inconstantes

Em um escritório físico, as pessoas têm um ambiente de trabalho consistente e previsível. Os funcionários podem acessar tecnologia, equipamentos, rotinas e cultura de trabalho similares. Você saberá que seus funcionários estão usando sua rede Wi-Fi segura, rodeados pela equipe da empresa. Operando remotamente, uma empresa pode ter que lidar com redes Wi-Fi não seguras ou funcionários que trabalham em espaços inadequados, por exemplo.

 

Interação mais difícil

Embora o trabalho remoto geralmente permita contratações mais fáceis, dificulta a interação dos membros da equipe e a criação de laços entre eles. Comunicar por meio de ferramentas como Zoom, Google Meet ou Slack não é o mesmo que conversar pessoalmente, bater papos informais ou almoçar em grupo. Para muitas pessoas, as interações não são espontâneas ao utilizar ferramentas de conectividade. Toda empresa que opera remotamente deve considerar esta questão e oferecer oportunidades para os membros da equipe conversarem regularmente sobre a vida fora do trabalho, os desafios de trabalhar em casa, ou quaisquer outros tópicos que eles possam querer compartilhar. 

 

Outros fatores podem ser prós ou contras, dependendo de como eles são tratados. Por exemplo, a saúde mental e o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. O trabalho remoto pode fazer com que os funcionários se sintam melhor devido à maior flexibilidade. Entretanto, pode prejudicar a saúde mental se eles se sentirem isolados. Os trabalhadores remotos podem adaptar rotinas às suas necessidades pessoais, mas às vezes pode ser difícil administrar os limites do trabalho e da vida. É uma questão que requer atenção e cuidado de todos os envolvidos.

 

O debate sobre produtividade e inovação

Muitos CEOs e líderes empresariais têm se manifestado recentemente sobre suas preocupações em relação aos efeitos do trabalho remoto sobre a produtividade e a inovação. Alguns têm ligado diretamente o trabalho remoto ao mau desempenho, argumentando que os funcionários são menos produtivos quando trabalham em casa ou em qualquer lugar fora do escritório. Em oposição a essa visão, uma gama de estudos tem mostrado que a produtividade quando se trabalha remotamente de casa é melhor do que no escritório. 

Uma pesquisa recente do think tank Future Forum, da Slack, constatou que os trabalhadores com flexibilidade total apresentaram índices de produtividade 29% maiores do que os trabalhadores sem flexibilidade alguma, enquanto os trabalhadores remotos e híbridos relatam produtividade 4% maior do que aqueles que trabalham exclusivamente no escritório. O mesmo estudo também indica que os funcionários com horários flexíveis reportaram uma capacidade 53% maior de se concentrar nas tarefas de trabalho. Outras pesquisas recentes sugerem que o trabalho remoto não afeta negativamente a produtividade, de acordo com um estudo A&M University School of Public Health, do Texas. Antes da pandemia, um estudo da Universidade Stanford com 16.000 funcionários em uma agência de viagens chinesa constatou que trabalhar em casa levou a um aumento de desempenho de 13%.  

No entanto, há também evidências de que o trabalho remoto leva a menos colaboração. Um estudo de 2021 que analisou dados de mais de 60.000 funcionários da Microsoft concluiu que o trabalho remoto em toda a empresa fez com que a rede de colaboração de trabalhadores se tornasse mais estática e fragmentada, com diminuição da comunicação em sincronia e aumento da comunicação sem sincronia. Os resultados, publicados na Nature Human Behavior, sugerem que o trabalho remoto dificulta a aquisição e o compartilhamento de novas informações pelos funcionários, o que é essencial para impulsionar a criatividade e a inovação. Outra pesquisa publicada na revista Nature no ano passado indica que a comunicação virtual restringe a geração de ideias criativas. 

 

Soluções em potencial e o futuro do trabalho remoto

 

Empregadores e empregados aprenderam muito sobre o trabalho remoto durante a pandemia. Enquanto os cientistas sociais continuam analisando o que acontece quando as trocas presenciais são substituídas pela comunicação on-line, muitas empresas optam cada vez mais pelo modelo híbrido: uma mistura de trabalho em casa e no escritório. Mas ainda há dúvidas sobre como alcançar o equilíbrio certo. 

 

Essencialmente, isso vai depender da natureza do setor, das tarefas desempenhadas e das responsabilidades de cada função. Os líderes empresariais precisam levar em conta diferentes variáveis, como por exemplo: 

  • O modelo de negócios influencia que tipo de ambiente de trabalho é mais favorável e produtivo.

  • A flexibilidade é agora altamente valorizada, tornando os empregos remotos e flexíveis muito mais atraentes para a maioria dos trabalhadores do que empregos no escritório.

  • Uma cultura de trabalho híbrida requer novas normas de comportamento e melhores práticas que podem ser revisitadas e evoluir à medida que todos aprendem mais sobre o equilíbrio entre o trabalho remoto e o trabalho presencial. 

 

Um último aspecto é digno de atenção: o que fazer quando criar equilíbrio é impossível? Afinal, muitos trabalhadores têm essencialmente empregos não flexíveis, ou seja, não têm a opção de trabalhar remotamente. Isso acontece, por exemplo, no setor industrial e nos serviços de varejo ou de alimentação fornecidos em ambientes onde há contato pessoal com os clientes. Exceto funcionários dos departamentos financeiros ou de TI, o trabalho remoto é inviável ou, pelo menos, prejudicial à produtividade. 

 

Mas e se os trabalhos que não são remotos também pudessem encorajar a flexibilidade? Ser flexível nem sempre tem que significar trabalhar de casa. Mesmo quando as pessoas têm que trabalhar presencialmente porque é uma exigência do negócio, ainda é possível considerar a flexibilidade de formas valiosas, oferecendo maior autonomia e mais alternativas no fluxo de trabalho, mais flexibilidade nas agendas e opções de mobilidade ao longo da carreira. Junto com a flexibilidade no trabalho, há uma questão relacionada: os funcionários têm que ter em mente que os empregadores também esperam que as equipes sejam flexíveis quando necessário, como por exemplo durante projetos que requerem colaboração presencial.   

Como qualquer pessoa que olhe atentamente para a questão do trabalho remoto/presencial/híbrido pode concluir, não há uma solução única para o futuro de onde trabalhamos. Os últimos anos transformaram completamente a maneira como pensamos sobre o significado de trabalhar. De agora em diante, o mais importante é entender como cada modelo pode ser conveniente tanto para as empresas quanto para os trabalhadores.

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