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Green

A indústria da mineração precisa de uma nova estratégia de descarbonização

10/17/2023

Mais do que criar minas carbono zero, o que está ao alcance graças às novas tecnologias sustentáveis, o setor pode atuar diretamente na preservação e regeneração florestal e emergir como um aliado fundamental contra as mudanças climáticas

Na sociedade moderna, os minerais fornecem os elementos básicos indispensáveis para produzir praticamente todo tipo de inovação. Pense em qualquer grande invenção que mudou o curso da história nos últimos séculos —como os motores a vapor, refrigeradores, redes elétricas, computadores e smartphones— e, sem dúvida, ela inclui metais em sua composição. Mesmo a enorme capacidade atual de produção de alimentos pode ser atribuída em grande parte ao uso de fertilizantes de origem mineral.

Entretanto, a exploração desequilibrada em larga escala desses recursos naturais transformou a indústria da mineração em um setor altamente poluente, que contribui com cerca de 8% da pegada global de carbono. De acordo com a McKinsey & Company, para reduzir suas emissões a indústria se concentrou por muito tempo em mudanças de portfólio, especialmente no desinvestimento de ativos de carvão. O setor também tentou evitar um aumento de 20% a 25% no custo de capital para as empresas com as menores pontuações ESG.

Como este esforço foi insuficiente para reduzir substancialmente a pegada de carbono, nos últimos anos grandes empresas de mineração anunciaram mais investimentos em soluções de descarbonização, tais como veículos elétricos, painéis solares e sistemas de armazenamento de baterias. No Chile, por exemplo, a BHP, Anglo American e Antofagasta Minerals prometeram operar suas minas exclusivamente com energia renovável. A Vale se comprometeu a produzir totalmente sua própria energia renovável para suas minas brasileiras até 2025 e para todas as suas outras minas do mundo até 2030.

Este tipo de objetivo demonstra como a indústria de mineração está em um ponto crítico, onde a busca da sustentabilidade coexiste com a crescente pressão dos reguladores, investidores e clientes para descarbonizar as operações. O setor enfrenta enormes desafios à frente, pois precisa:

  • Encontrar as soluções certas para alcançar a sustentabilidade.
  • Integrar rapidamente essas tecnologias à produção.
  • Diversificar as fontes de energia.
  • Reduzir as emissões diretas CO₂ a zero até 2050.

Ao mesmo tempo, os metais desempenham um papel crucial na transição para uma economia sustentável. Tecnologias para produzir energia limpa, tais como painéis solares fotovoltaicos e usinas eólicas, aumentarão significativamente a demanda por diferentes tipos de metais nos próximos anos, para não mencionar componentes eletrônicos como chips e baterias de veículos elétricos (EVs).

De acordo com a Agência Internacional de Energia(AIE), um carro elétrico típico requer seis vezes mais insumos minerais do que um carro com motor a combustão convencional. Uma usina eólica em terra requer nove vezes mais recursos minerais do que uma usina movida a gás. Como podemos assegurar que a indústria da mineração possa reduzir suas emissões enquanto atende a esta demanda crescente?

Um estudo aprofundado realizado em 2021 pela McKinsey esboçou o que seria necessário para descarbonizar agressivamente a mineração global a fim de atingir a meta da mudança climática, de mais 1,5°C até 2050. Com foco na extração de metais como cobre, ouro e minério de ferro, o relatório divide as emissões da mineração em três grandes fontes: emissões de diesel, emissões da geração de eletricidadee emissões da cadeia de fornecimento e transporte.

Por isso, são necessários múltiplos esforços para descarbonizar as operações lidando com essas diferentes fontes de emissões. A análise da McKinsey detalha as ações que já estão ao nosso alcance:

1. Mais eficiência operacional

Atualizar processos para atingir níveis de referência mais altos melhora as operações e pode gerar fluxo de caixa para investir em soluções alternativas e mudanças sustentáveis.

 

2. Combustíveis sustentáveis 

A mudança de combustíveis fósseis para combustíveis líquidos sustentáveis (biocombustíveis ou combustíveis sintéticos) pode potencialmente reduzir as emissões de carbono em mais de 70%, mesmo utilizando equipamentos e infraestrutura existentes.

3. Sistemas de transmissão sustentáveis

Para se tornar totalmente carbono neutra , a indústria também precisa mudar os sistemas de transmissão dos veículos utilizados nas minas. Sistemas com células de combustível a hidrogênio, veículos elétricos a bateria e carga rápida por pantógrafo (já utilizada em ônibus elétricos) são soluções viáveis.

4. Eletricidade verde

A adoção de fontes de energia verde é crucial para modificar entre 30% e 50% das emissões atuais. Isto pode ser alcançado de várias maneiras, desde a compra de eletricidade verde até a instalação de infraestrutura para produzir energia renovável.

5. Fornecedores sustentáveis

A mudança ou adaptação de cadeias de fornecimento complexas para operações mais verdes é um desafio para o setor, mas deve acontecer mais cedo ou mais tarde. Os principais itens de consumo que precisam de versões sustentáveis são cimento, aço e cal.

Mas por onde começar? Uma recomendação é focar inicialmente onde a situação é mais crítica: as mineradoras podem reduzir substancialmente suas emissões de carbono, visando as minas responsáveis pelas maiores emissões. Por exemplo, de acordo com o estudo, as emissões totais da exploração de minério de ferro seriam reduzidas em cerca de 46% se os 25% das minas com os níveis de emissão mais altos operassem na média global de emissões. Para o cobre, as emissões totais diminuiriam cerca de 26% se os 25% das minas com níveis de emissão maiores operassem na média do setor.

E se pudéssemos fazer mais?

Embora exista um caminho claro para criar uma mineração sem carbono, o ritmo da mudança ainda precisa melhorar. O último relatório da ONU sobre as mudanças climáticas mostra que a curva geral das emissões globais está descrescendo, mas não o suficiente para atingir a meta de 1,5°C antes do final do século. De acordo com o relatório, as promessas atuais poderiam colocar o mundo na rota para cerca de 2,5°C de aquecimento no período, um cenário que poderia ter "conseqüências devastadoras", segundo Simon Stiell, o secretário Executivo de Mudanças Climáticas da ONU. 

A indústria da mineração precisa de uma estratégia nova e ambiciosa para fortalecer seu plano de ação para os próximos anos. É necessário observar separadamente diferentes categorias dentro do setor, ter uma visão ampla dos problemas e aproveitar as oportunidades.

A mineração de ouro, que emite mais de 50 milhões de toneladas de gases de efeito estufa anualmente, é um excelente exemplo. Além do impacto ambiental, grande parte da produção ainda é ilegal —em países como o Brasil, isso equivale à metade de todo o ouro produzido e exportado. O desmatamento ilegal e a extração de ouro têm aumentado nos últimos anos, causando desmatamento extenso e a degradação da Floresta Amazônica.

As empresas do setor precisam observar a cadeia produtiva como um todo para descarbonizar e combater a mineração ilegal de ouro que destrói a Amazônia. Uma maneira de a indústria fazer isso é agir diretamente para preservar a floresta tropical e regenerar as áreas deixadas para trás pela mineração ilegal, o que ajudará a reduzir sua própria pegada de carbono. Há outras vantagens em jogo, como:

  • Proteção do solo, rios e comunidades ribeirinhas, que não seriam mais afetados pelo mercúrio utilizado pelos garimpeiros.
  • Criação de créditos de carbono, que podem ser comercializados.
  • Produção de ouro verde, que não impacta o meio ambiente.

Ao mesmo tempo, adotar agressivamente práticas ESG em minas distantes da Amazônia alavancará exponencialmente e de forma sustentável o setor. Isso inclui maior transparência nos contratos com os detentores dos direitos de mineração, aplicar métodos científicos não poluentes na extração de ouro, levar mais informações sobre a importância da biodiversidade local e proporcionar uma vida mais digna para as comunidades envolvidas com os projetos.

A 2Future está observando oportunidades nesta área. "A empresa está avaliando possibilidades de investir em novas iniciativas destinadas a transformar todo o negócio da mineração, incorporando elementos de governança, sustentabilidade e responsabilidade social, bem como tecnologias de ponta", diz o fundador e CEO da 2Future, Luís Felipe Neiva Silveira.

A estratégia não pode abrir mão da tecnologia hoje disponível para monitorar a produção de ouro e descentralizar as vendas. O uso do blockchain e da tokenização de commodities abre um grande espaço para atrair investidores. Tokens verdes, sustentáveis e lastreados em ouro, produzidos por empresas que comprovadamente combatem a crise climática, podem revolucionar a cadeia de mineração —e democratizar os investimentos. O mesmo é possível com tokens de créditos de carbono e de compensação de carbono, que as empresas mineradoras podem emitir.

Diversas companhias em diferentes países já estão utilizando este modelo de negócios. Agora, é hora de a indústria de mineração aplicá-lo junto com um esforço diligente para enfrentar as mudanças climáticas. Se começarmos a preservar hoje um milhão de hectares na Amazônia que de outra forma a mineração ilegal destruiria no futuro, isso seria suficiente, por exemplo, para neutralizar o carbono de toda a produção atual de ouro no mundo.

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