Ofundador e homônimo da Maison Arnaud Boué compartilha sua visão sobre a produção sustentável de vinhos e seus planos de expansão
Enquanto o sol se põe sobre os vinhedos que pontilham a paisagem de Villers-la-Faye, uma pequena comuna no coração da região de Hautes-Côtes de Nuits, na Borgonha francesa, um homem olha para o solo e reflete sobre o futuro da terra. Os terroirs são lindos, mas seu ecossistema é frágil - esse é o único pensamento que domina a mente de Arnaud Boué enquanto ele considera as melhores práticas para proteger e aprimorar os terroirs nas próximas décadas.
O fundador e homônimo da Maison Arnaud Boué, empresa do portfólio da 2Future , é apaixonado por vinho desde sua juventude, quando observava seus pais cultivarem algumas videiras para fazer seu próprio vinho "apenas por diversão". Nascido em 1984, Boué aprendeu a arte da vinificação com eles e, com uma paixão pela terra e pelos vinhedos, sua carreira o levou ao Instituto SupAgro de Montpellier, uma das melhores escolas de agronomia da França.
Seu objetivo era se tornar um engenheiro-agrônomo e enólogo, mas, ao finalizar seu treinamento, percebeu que um mestrado não seria suficiente. Assim, o jovem Arnaud Boué começou a olhar para além das fronteiras francesas. "No final de minha escola e dos estágios, decidi ir para o exterior e aprender um pouco mais sobre a produção de vinhos em outras regiões", lembra ele. Sua primeira parada não foi exatamente além das fronteiras francesas, mas Boué gosta de brincar dizendo que se tratava de um país diferente, quando se lembra da época em que, recém-formado, trabalhou em Bordeaux (a maior região produtora de vinhos da França).
Em seguida, Boué foi para a África do Sul e Nova Zelândia com o objetivo de testemunhar como os dois países produzem Chardonnay e Pinot Noir, as duas variedades de uvas pelas quais a Borgonha é famosa. Após sua temporada no exterior, Boué retornou à França, com o objetivo de trabalhar em casas de prestígio na Borgonha. Durante nove anos, ele ocupou cargos de responsabilidade em propriedades vinícolas da Côte de Nuits e da Côte de Beaune, chamadas de Côte d'Or quando combinadas e consideradas as regiões vinícolas mais importantes da Borgonha.
Entre outros, ele trabalhou no Domaine David Duband, no Clos des Lambrays (uma das grandes propriedades do Grand Crus da Borgonha), no Jean-Claude Boisset (o terceiro maior grupo de vinhos da França, cujo produtor de vinhos homônimo é conhecido por modernizar o setor de vinificação na Borgonha) e, finalmente, no Frédéric Magnien.
"Com David Duband, que também começou na Haute Côte des Nuits, na Borgonha, aprendi muitas coisas sobre a produção de vinhos, o desenvolvimento de negócios e acho que o que mais aprendi com ele foi a importância de ter uma boa consideração pelas pessoas que trabalham com você", diz Boué.
Atualmente, ele percebe o que essas diferentes vinícolas e locais na França e no exterior representaram à medida que adquiria experiência: "Tipos muito diferentes de filosofias de produção de vinho". Aprender estilos distintos de viticultura foi crucial para a abordagem profissional e filosófica de Boué em relação à vinificação e o ajudou a criar sua própria identidade usando técnicas tradicionais e práticas agrícolas sustentáveis para produzir vinhos de alta qualidade que refletem o terroir exclusivo da Borgonha.
Em 2018, com o apoio de investidores privados, Boué criou a Maison Arnaud Boué como uma casa comercial por meio de crowdfunding. Depois, em 2021, a empresa foi adicionada ao portfólio da 2Futuregraças ao compromisso de Boué de produzir vinhos premium com o melhor da Borgonha em harmonia com a natureza. "A Maison Arnaud Boué aplica uma abordagem ambientalmente consciente à produção de vinhos", resume o fundador e CEO da 2Future , Luis Felipe Neiva Silveira. A vinícola se concentra nas ideias de agricultura orgânica e biodinâmica como os principais pilares para promover uma viticultura sustentável, respeitosa e de alta qualidade.
Desde 2019, a Maison Arnaud Boué é certificada como "Agricultura Orgânica" pela Ecocert, uma organização de certificação orgânica sediada na França que atua em mais de 130 países. "Essa certificação garante o uso de práticas agrícolas sustentáveis que ajudam a reduzir a erosão do solo, evitar a poluição da água e preservar a biodiversidade", diz Silveira.
Os princípios da biodinâmica destacam o equilíbrio dos ecossistemas e o desenvolvimento conjunto do solo, das plantas e dos animais, enquanto a agricultura orgânica substitui os produtos químicos sintéticos pela lavoura ou pela grama. Para evitar doenças nas plantas, não são permitidos produtos artificiais, apenas uma pequena quantidade de enxofre e cobre.
"Ainda temos algumas dúvidas sobre a sustentabilidade da agricultura orgânica com base em alguns produtos que usamos, especialmente o cobre que pode ficar preso no solo", explica Boué. O cobre é usado na agricultura orgânica como um fungicida natural. Ele atende à certificação de agricultura orgânica, desde que as certificadoras trabalhem com os agricultores para garantir que apenas a quantidade mínima do material seja aplicada em concentrações baixas e seguras para a saúde humana e o meio ambiente.
O processo de vinificação é cuidadosamente gerenciado com uma abordagem suave e natural, enquanto um controle rigoroso é mantido para garantir a melhor qualidade. Em seguida, os vinhos são amadurecidos com o máximo respeito por suas características únicas, preservando a verdadeira expressão dos terroirs. O resultado final é uma coleção de vinhos Grand Cru, Premier Cru, Village e regionais que são cheios de expressão, facilmente digeríveis e que refletem de forma distinta sua safra e denominação.
A tendência orgânica e a filosofia biodinâmica, explica Arnaud Boué, vieram à tona na Borgonha no final da década de 1990. "Hoje em dia, ainda não é a principal forma de cultivar vinhedos na Borgonha", ele ressalta, "mas mais pessoas estão usando cada vez menos produtos químicos e se aproximando dos métodos biológicos, mesmo que não sejam certificados." Os benefícios são substanciais e visíveis, como afirma Boué:
"Os vinhedos orgânicos são vinhedos mais vivos. Você pode ver a vida no solo. Mas a melhor maneira de convencer fornecedores e consumidores é dizer a eles que também podemos ser limpos, orgânicos e bons produtores de vinho."
De acordo com Boué, o projeto comercial da maison se concentrou desde o início na produção de vinhos limpos que são bons para a natureza, para a saúde e para o consumo. "Isso foi bastante adequado à minha crença de incentivar os fornecedores locais a se envolverem em uma nova maneira de viver por meio da produção de vinhos", diz ele. Essa filosofia também se alinha com o compromisso da 2Futurede gerar bem-estar e um impacto positivo real para a sociedade e o planeta.
Com o apoio da 2Future, a Maison Arnaud Boué está expandindo seus negócios ao fortalecer sua abordagem sustentável à produção de vinhos. Esse impulso inclui o reforço das redes de fornecimento para atender à demanda sempre crescente, a compra de novas propriedades e o desenvolvimento de propriedades.
"A aquisição de terras é um aspecto importante do plano de expansão; no entanto, também estamos nos concentrando em consolidar nosso suprimento de uvas para garantir qualidade e quantidade ao mesmo tempo. Também pretendemos aumentar nosso fornecimento de uvas orgânicas", explica Boué. O objetivo geral é evoluir gradualmente de uma maison para um domaine com cada vez mais vinhos orgânicos certificados no portfólio. No mundo do vinho, uma maison é um negociante que compra principalmente frutas, enquanto um domaine cultiva suas próprias frutas.
Com o apoio da 2Future, a vinícola firmou recentemente uma parceria com o Studio Dada, um conceituado estúdio de design de Bordeaux, na França, e com a fundadora e CEO da Wine Lister, Ella Lister, que prestará serviços de consultoria à Maison Arnaud Boué, voltados para o mercado britânico. O Reino Unido está entre os próximos países para os quais a empresa planeja exportar (Austrália, Cingapura, Taiwan e Japão também estão na lista de alvos). Além da França, os vinhos da Arnaud Boué estão atualmente disponíveis nos Estados Unidos (Califórnia, Delaware, Pensilvânia, Nova York e Nova Jersey, com a expectativa de adicionar mais locais em breve), Canadá, Suécia, Dinamarca, Noruega, Alemanha, China, Portugal e Brasil.
Para Arnaud Boué, o crescimento nunca comprometerá a ideia central da empresa. "Vamos evoluir e nos desenvolver, mas continuaremos avançando na sustentabilidade, por meio da produção de vinhos orgânicos e biodinâmicos. E queremos continuar com o espírito de vinhos artesanais e de alta qualidade."
