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O metaverso que as pessoas querem

10/17/2023

Mais do que popularizar mundos virtuais em 3D, a verdadeira revolução do metaverso será possibilitar interações mais humanas e autênticas na internet. Mas quem está desenvolvendo tecnologia para isso? Uma startup saiu na frente

Existem muitas promessas em qualquer conversa ou notícia sobre o metaverso. Fala-se em ambientes virtuais imersivos conectados em grande escala, que incorporam formas de realidade estendida (XR), como a realidade virtual (VR) e a aumentada (AR), e podem ser explorados por um número efetivamente ilimitado de pessoas em tempo real, o que levará parcelas cada vez maiores de nossos trabalhos, lazer, educação, economia e relações pessoais para espaços virtuais sofisticados.

Também ouvimos falar na construção colaborativa de mundos 3D por comunidades virtuais, de novos mercados, produtos, bens e identidades digitais que poderão ser transportados através de diferentes mundos virtuais —teoricamente, serão muitos espaços interconectados da mesma forma que a internet como conhecemos é uma rede de redes. O que isso significa na prática hoje:

  • Entramos em um rede qualquer (uma rede social, por exemplo) pelo navegador ou app.

  • Podemos clicar em um link (textos ou imagens) e essa ação nos faz sair dessa rede para outra rede, que abriga um espaço virtual diferente.

  • Pode ser uma loja hospedada na rede de servidores do Google ou da Amazon, a rede de uma universidade, uma agência do governo etc. São quase 2 bilhões de opções, o número de sites da internet atual.

  • O que torna tudo isso possível? O sistema de endereçamento do Protocolo de Internet (IP), que interconecta as cerca de 40.000 redes que formam a internet.

No metaverso ninguém sabe exatamente como isso vai funcionar, porque ainda não foram definidos padrões de integração. No entanto, quem acompanha os avanços na indústria da tecnologia sabe que muitos desenvolvedores e empresas estão partindo do que já existe em universos online de jogos multiplayer em 3D como Roblox, Minecraft e Fortnite. Em jogos como esses, que permitem enorme quantidade de conteúdo gerado pelo usuário (CGU), qualquer pessoa pode criar suas próprias extensões, bens digitais, novos jogos e novos mundos a partir dos componentes do sistema.

Por serem tão extensíveis, terem introduzido shows virtuais, espaços para ações de marcas, conteúdos educacionais e marketplaces onde criadores podem ser pagos pelo seu trabalho, esses jogos já são chamados por algumas pessoas de metaversos. Mas especialistas no assunto como o investidor e ensaísta Matthew Ball, autor de The Metaverse: And How It Will Revolutionize Everything, argumentam que enquanto essas plataformas não funcionarem conectadas umas às outras, chamá-las de metaversos é como chamar o Facebook ou outra plataforma semelhante de “uma internet”.

Ou seja, não faz muito sentido já que o metaverso pressupõe uma experiência unificada que abrange o universo virtual por inteiro, múltiplos espaços e portas que conectam todos eles.

A corrida pelo metaverso e o paradoxo dos jogos

Seja como for, o apelo dos jogos 3D extensíveis é cada vez maior. De acordo com o ActivePlayer.io, o principal site de estatísticas sobre jogos, Roblox, Minecraft e Fortnite juntos já ultrapassaram os 650 milhões de usuários mensais, em um ritmo de crescimento impressionante nos últimos anos. São números que oferecem um vislumbre do potencial do metaverso “por vir”, que entrou no radar dos mercados financeiros e já provoca mudanças nas grandes empresas de tecnologia.

Previsões indicam um mercado de mais de 1 trilhão de dólares por ano. Um novo relatório da Mckinsey & Company ressalta que Microsoft, Nvidia, Apple, Alphabet (controladora do Google) e sobretudo o Facebook, que mudou seu nome para Meta com a intenção de liderar o novo setor, estão se reorganizando internamente a fim de se prepararem para o metaverso.

A estimativa é de que grandes corporações, empresas de private equity e investidores de risco já destinaram US$ 120 bilhões em investimentos relacionados ao metaverso nos primeiros cinco meses de 2022, o dobro em comparação a todo o ano de 2021.

Se o metaverso que surgir desse esforço for uma espécie de realidade alternativa repleta de reinos fantásticos como nas grandes plataformas de jogos online mais populares, ele será capaz de cumprir a promessa de uma grande revolução cultural e assumir a proporção da internet de hoje?

Para encontrarmos uma resposta, precisamos entender o que as pessoas acham que o metaverso pode fazer por elas. Uma pesquisa recente do National Research Group sobre as percepções do público a respeito do metaverso oferece uma visão do que os consumidores querem, não querem ou podem ter dificuldade de compreender nesse novo mundo. O estudo inicialmente apontou que:

  • 2 em cada 3 consumidores ficam animados com a possibilidade de se envolverem nos mundos virtuais como se estivessem lá pessoalmente.

  • 56% acham que o metaverso será melhor do que as plataformas das redes sociais existentes porque terá mais semelhança com as interações físicas.

Os pesquisadores então perguntaram às mais de 4.500 pessoas entrevistadas com idades de 18 a 64 anos o que achavam da ausência de contato nas experiências digitais atuais.

78%

disseram que sentem falta de interação física quando interagem com as pessoas virtualmente.

79%

acreditam que quando as pessoas podem interagir fisicamente, elas se tratam mais gentilmente.

Os dados do estudo mostram que a maioria das pessoas não quer que o metaverso sirva como uma fuga da realidade, mas sim como uma ferramenta que possa satisfazer nossa necessidade de conexões humanas enraizadas na intimidade e na empatia.

O que os construtores do metaverso devem aprender

A indústria da tecnologia não pode ignorar a expectativa do público. Os profissionais e empresas que estão trabalhando para moldar o metaverso devem construir formas de tornar as interações nos mundos virtuais o mais humanas e autênticas quanto possível.

Novas tecnologias e dispositivos têm, sem dúvida, um papel a cumprir. Embora o metaverso não dependa de óculos e headsets de VR/AR, eles podem se tornar meios primordiais de acesso, da mesma forma que os smartphones fazem com a internet móvel.

Isso explica por que grandes empresas de tecnologia estão trabalhando de forma intensa para lançar produtos amigáveis que sejam de fato capazes de transmitir uma sensação realista de presença. A Google anunciou o reinício de testes em público com protótipos de óculos de AR e também o seu Projeto Starline, um sistema de comunicação que oferece uma experiência de conversação próxima ao 3D. A Apple mantém segredo sobre seus planos de hardware, mas deve lançar um headset de VR ou "realidade misturada" (VR e AR) em 2023, de acordo com analistas. A Meta planeja um novo headset de amplo consumo no próximo ano, e também trabalha em seu primeiro par de óculos de realidade aumentada.

Mas até que ponto experiências focadas sobretudo na visão e na audição serão capazes de atender a expectativa de interações virtuais mais próximas da realidade, como a maioria de nós deseja?

O metaverso pode ser tátil?

Nossa relação com o mundo real está intimamente ligada à sensação física de poder tocar uma pessoa querida ou alguma coisa que tenha significado para nós. O metaverso pode conectar amigos virtualmente de uma maneira emocionante ou oferecer a possibilidade de manipular elementos digitais somente com as mãos se a tecnologia para explorar os espaços virtuais incorporar a dimensão do tato às experiências imersivas.

Essa filosofia já foi adotada por alguns criadores de tecnologias inovadoras para o metaverso. Eles desenvolveram a primeira plataforma que permite aos usuários interagir no mundo virtual sem a necessidade de controles ou protótipos de luvas sensíveis, pesadas e desconfortáveis.

O sistema é chamado de Emerge Home, e começou a ser disponibilizado para a comunidade beta da empresa. Ele inclui um dispositivo de mesa do tamanho de um laptop que emite ondas ultrassônicas e cria um campo de força no ar. O movimento das mãos em meio às ondas sonoras permite interagir com a realidade virtual diretamente, inaugurando uma maneira de transformar em realidade o metaverso sensível ao tato —e com as próprias mãos.

Não é preciso muito esforço para perceber como essa tecnologia ajuda a criar uma imersão muito mais completa e cativante. É o que podemos ver acontecendo nesse vídeo:

Os avanços da Emerge, uma empresa do portfólio da 2Future, levaram a companhia a ser nomeada pelo Fórum Econômico Mundial entre os Technology Pioneers de 2022. O reconhecimento é concedido anualmente desde 2000 a empresas em estágio inicial que estão desenvolvendo e implantando novas tecnologias e inovações prestes a terem um impacto significativo nos negócios e na sociedade.

Isaac Castro, cofundador da Emerge, considera que nossas interações nas redes sociais perderam elementos importantes ao longo da última década, como humanidade, intimidade, profundidade e empatia. Para ele, precisamos de mais conversas reais e nos sentir mais próximos uns dos outros nos mundos virtuais que queremos construir.

“A transição para o metaverso não será uma mudança de paradigma tecnológico, mas sociológico”, ele explica.

Em outras palavras, o foco do metaverso precisa ser na experiência humana e ter como propósito fortalecer os laços sociais. Existem muitos desafios tecnológicos e criativos emergindo enquanto construímos este grande universo virtual multidimensional. Mas para a internet de fato evoluir, a maior transformação deve ser de mentalidades.

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